"Das melhores edições espanholas dos últimos tempos"Valter Hugo Mãe
Não é de todo uma «poesia da experiência» – no sentido comummente empregue para designar os poetas das últimas gerações em Espanha – a poesia de José Ángel Cilleruelo. Talvez isso justifique alguma discrição da sua presença no panorama literário daquele país, como justificará o entusiasmo de alguns, mais apaixonados pela resistente capacidade de efabular, que encontram neste poeta ainda o compromisso entre a realidade (nomeadamente urbana, mas não só) e a subjectividade profunda. A subjectividade de Cilleruelo não é nunca alcançada por qualquer automatismo, mas o pendor surrealista pode ser encontrado: «No me siento más necesitada que tú, / como tú, y cuando te tengo / en el centro del cuerpo / se evapora, oh muchacho encantado, / y si no lo impido, te evaporas tú, / y no me sienta este tono en el vestido / decentemente con esa luz.» (p. 13). Os seus propósitos são, as mais das vezes, sensuais, chegando a um erotismo essencial que celebra sempre um amor nostálgico e delicado: «Sabe que un cuerpo no es ya el paraíso, / mansedumbre del tiempo, puro don. / Pero de poco vale la experiencia, / de nada la meditación, presagio / o incertidumbre, cuando com la noche / le toma el ansia de animal herido.» (p. 34).Domicilios – antología 1983 – 2004, apresenta uma escolha do próprio José Ángel Cilleruelo, publicada na El Toro de Barro em Janeiro deste ano, em Cuenca. O volume está prefaciado com o texto de Joaquim Manuel Magalhães, já publicado em Portugal no ano de 2000, como apresentação do poeta espanhol na edição da Relógio d’Água «Trípticos Espanhóis, II». É, quanto a mim, das melhores edições espanholas dos últimos tempos. «Y lo hacen en el coche frente al mar / Discreto de los sábados, y luego // Despeinadas y feas, algo hinchados / Los labios, con arrugas en la falda, // Aparecen por el café. No exigen / Al fumar ni palabras ni caricias. // Las imágenes de televisión / Invaden por completo su mirada. // En su dulce abandono del deseo / Prenden los símbolos más solitarios.» (p. 51).
(Esta reseña apareció en la revista postuguesa Da literatura, dirigida por João Paulo Sousa y Eduardo Pitta)
Carlos Morales. El Toro de Barro.
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